segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Marrocos - Le Sud


(Janeiro de 2018)

No final de janeiro de 2018 partimos à aventura até às portas do Sahara, saindo de Marraquexe, atravessando a cordilheira do Atlas e percorrendo depois as terras do Sul de Marrocos até às areias do deserto. 

Era esse o nosso objetivo, ou mesmo mais que um objetivo, o deserto era uma atração que sempre nos tinha fascinado e que agora iríamos alcançar.
Além da minha mulher, a Ana, habitual companheira de viagens, desta vez vieram também dois amigos, a Marisa Martins e o Rui Cabrita, que já nos acompanharam noutras viagens, e formam connosco uma excelente equipa para estas aventuras.

A viagem começou com um voo direto para Marraquexe, onde passámos uma noite, e fizemos depois um percurso de cerca de 1400 km em jeep, com regresso de novo a Marraquexe, onde ficámos mais um dia completo até ao voo do dia seguinte, de volta a Lisboa. 

Desta vez, e ao contrário do que é habitual, marcámos o percurso através de um site que providenciou a organização do tour até ao deserto, garantindo as viagens de jeep com motorista e as estadias nos hotéis ou riads.

Recomendo francamente a equipa com quem fizemos a viagem e, por isso, vou deixar aqui as referências e os contactos. A organização foi feita pelo site http://www.marrocos.com/ e o contacto foi através da Rita Leitão - emailmarrocos@gmail.com - uma portuguesa que vive em Ouarzazate e que organiza todo o tipo de passeios por Marrocos. O nosso motorista foi o Ahmed, que falava apenas um espanhol ainda um pouco atabalhoado, mas compensava perfeitamente com a sua simpatia e disponibilidade. Como estávamos interessados em tirar boas fotos, o Ahmed inventava trilhos todo-o-terreno para nos levar aos locais com as melhoras vistas panorâmicas. Além disso nunca nos tentou impingir restaurantes ou lojas, como consta ser habitual nestas paragens. 

Desta vez, além da crónica de viagem mais detalhada, que vou apresentar ao longo destas páginas, deixo aqui também um vídeo com um breve resumo da nossa viagem, uma versão mais instantânea e apelativa, daqueles dias que passámos em Marrocos (vídeo by Rui Cabrita).


Marrocos é um país muçulmano do Norte de África, com uma população de cerca de 35 milhões de habitantes, formada por árabes e pelos povos berberes, todos eles praticantes da religião islâmica. É uma monarquia governada atualmente pelo rei Mohammed VI, que tem tentado introduzir algumas alterações aos costumes tradicionais, modernizando um pouco mais a vida dos marroquinos, como é o caso da lei que permitia a poligamia para os homens, até a um máximo de 4 mulheres, que foi anulada pelo novo rei.

O turismo tem um papel determinante na economia do país e talvez seja também por isso que a sua população é tão afável. Árabes e berberes são sempre muito simpáticos, tentam falar a nossa língua, mesmo o português, embora o mais comum seja encontrar quem fale o francês e o espanhol (pela influência dos antigos protetorados destes dois países), mas mesmo o inglês é bastante comum. E não é apenas com objetivo do comércio, eles são simpáticos por natureza.

Talvez também para que o turismo seja bem preservado, o país revela-se bastante seguro, não há grande risco de assaltos, embora nas cidades grandes possam existir alguns carteiristas….mas isso há por todo o lado. Mesmo em relação ao terrorismo, existem medidas de proteção permanentes, evitando que um atentado possa afastar os turistas, com o enorme prejuízo que isso traria para o país e para o seu povo.


Em relação ao percurso que fizemos ao longo desta viagem, seguimos o roteiro representado no próximo mapa e detalhado nas descrições que se seguem.

Mas gostava de registar que, mais do que o itinerário turístico que aqui represento, esta foi sobretudo uma viagem pelas culturas, a árabe e a berbere, diferentes entre si e ambas tão ricas e tão estranhas e fascinantes para nós, e foi também uma viagem de contrastes que nos levou pelo mundo das cores, não só aquelas que salpicam os souks, nas bancas de especiarias ou nos tecidos e tapetes garridos, mas também as cores da terra que atravessámos....o branco das montanhas nevadas, os vermelhos da terra e das casas no alto Atlas, os verdes dos palmeirais nos oásis, o amarelo alaranjado das areias do deserto, ou ainda o negro forte da cordilheira do anti-atlas.



Dia 1: Lisboa - Marraquexe
Dormida no Riad Riad Dar El Masa: http://www.riad-darelmasa.com

Dia 2: Marraquexe - Alto Atlas (Tizi n'Tichka) - Kasbah Ait Benhaddou - Kasbah Tifoultoute - Kasbah Taourirt - Ouarzazate. 
Dormida no Riad Dar Rita: http://www.darrita.com/hotel-marrocos/

Dia 3: Ouarzazate - Oásis de Skoura (Kasbah Amridil) - Kelaat Boulmane (Vale das Rosas) - Boumalne Dadès - Gargantas e vale do rio Todgha - Erfoud - Deserto de Merzouga. 
Dormida no hotel Auberge du Sud, às portas do deserto: http://www.aubergedusud.com/pt/

Dia 4: Deserto de Merzouga - Oásis Tissardmine - Acampamentos Nómadas - Minas de Mfis - Aldeia de Khamlia - Merzouga - Rissani - Deserto de Merzouga - Percurso de dromedário (cerca de 1h30m) pelas dunas de Erg Chebbi até ao acampamento, com uma paragem durante o pôr-do-sol. 
Dormida em tendas de luxo do Auberge du Sud: http://www.aubergedusud.com/pt/

Dia 5: Subida a pé ao alto das dunas ao amanhecer para acompanhar o nascer do sol - Depois do pequeno almoço, passeio de dromedário de volta - Voltando ao jeep até Rissani - Alnif - Tazzarine - Nkob - Agdz (Vale do Draa) - Desvio até ao Oásis de Fint - Ouarzazate.
Dormida no Riad Dar Rita: http://www.darrita.com/hotel-marrocos/

Dia 6: Ouarzazate - Estúdios de cinema CLA - Télouet (Kasbah do Pacha Glaoui) - Alto Atlas - Marraquexe
Dormida no Riad Dar El Masa: http://www.riad-darelmasa.com

Dia 7: Marraquexe
Dormida no Riad Dar El Masa: http://www.riad-darelmasa.com

Dia 8: Marraquexe – Lisboa


Nos posts seguintes registei as crónicas de cada um dos percursos que efetuámos:

Ainda antes de terminar queria deixar apenas algumas dicas para quem quiser fazer uma viagem semelhante.

A duração total desta viagem foi de 8 dias, o que permitiu um tour de 5 dias pelas terras do Sul, o período suficiente para fazer este itinerário. Porém, existem tours ao deserto, a partir de Marraquexe, que são feitos em menos dias, 4 ou mesmo 3, os quais, na minha opinião, têm uma duração insuficiente. 

Quando pensamos na melhor altura para fazer esta viagem não tenho dúvidas em dizer que é bem melhor irmos nesta época, inverno ou primavera, evitando assim os 40 e muitos graus de temperatura, quer no deserto quer em Marraquexe. Mas tentem fugir das épocas muito altas, como a Páscoa, Carnaval ou passagem de ano, porque o fascínio destes locais pode-se perder com grande concentração de turistas. Neste período, no final do mês de janeiro, estes locais estavam encantadores, com uns dias bonitos de sol e sem grande confusão…..mas há quem se queixe de algum frio, sobretudo nas noites do deserto....mas não foi o meu caso. 

Outra dúvida que se coloca é a eventual necessidade de fazer esta viagem de jeep, ou se podemos ir em viatura própria a partir de Portugal ou alugar em Marraquexe algum carro ligeiro. Na verdade, grande parte da viagem pode ser feita com qualquer viatura uma vez que as estradas são quase sempre pavimentadas. No entanto, existem alguns lugares que justificam um veículo todo-o-terreno, nomeadamente durante o dia em que andamos em torno do deserto, mas, para esse dia, podem deixar o vosso carro no hotel às portas do deserto e alugar aí um tour em jeep com motorista. De qualquer forma considero que se tivéssemos ido em viatura própria teríamos perdido alguma coisa, porque o nosso driver acabou por nos levar a conhecer uns recantos mais escondidos que, de outra forma, não iríamos descobrir.

O chá de boas-vindas, que é um chá de menta, por vezes servido com frutos secos ou biscoitos, é um hábito marroquino que revela a hospitalidade de quem nos recebe, seja num riade ou hotel, ou numa loja qualquer, mesmo antes de termos comprado alguma coisa. E sabemos que nas casas marroquinas a oferta de chá é também uma prática corrente. Refiro este detalhe apenas para assinalar que será de bom tom aceitar este chá de boas-vindas, tornando-se pouco cordial recusar a oferta. O chá é sempre servido em pequenos copos de vidro, utilizando um bule metálico trabalhado, como o que registámos nesta fotografia.

Acrescento uma outra dica, agora sobre a moeda oficial do país, o Dirham marroquino. Em primeiro lugar é possível obter dirhams nas máquinas de multibanco, mas não são muito comuns fora das cidades grandes e nem sempre nos deixam tirar dinheiro. Um euro vale cerca de 11 dirhams, o que permite que se faça uma conversão mais prática de 1 euro para 10 dirhams, que é favorável aos marroquinos e que faz com que eles aceitem que paguemos em euros. Apesar desta pequena perda no câmbio sugiro que se leve sempre algum valor em euros, ou para fazer o pagamento direto de algumas compras, ou mesmo para trocar em casas de câmbio ou em bancos, e nesse caso será praticado o câmbio oficial.

Falando agora de compras, um dos atrativos deste país, mas também uma dor de cabeça para os turistas, como é sabido, para qualquer compra em mercados ou lojas tradicionais é indispensável regatear preços. É algo que faz parte da cultura local e, por isso, é inevitável entrarmos nessa onda sempre que queremos adquirir algum produto. Mas a mim, essa necessidade de regatear preços é uma coisa que me chateia, confesso, e chateia-me sobretudo que me tentem impingir produtos que eu nem sequer quero comprar. Por isso fizemos um trato, tendo a consciência daquilo que queríamos mesmo comprar, e que conseguiríamos transportar no avião, e que eram apenas alguns souvenires e dois tapetes berberes perfeitamente identificados, e só avançámos no regateio quando decidimos que era a altura certa para a compra. Isso fez com que ao longo de toda a viagem tivéssemos estado mais tranquilos e praticamente imunes à constante pressão que todo o tipo de vendedores fazem sobre os turistas. A solução é acenar com a cabeça dizendo que não, sem parar ou vacilar, e terminar com um sorridente e firme “shukran”....o obrigado na língua árabe.


Fecho esta crónica, em tom de balanço, dizendo que fiquei absolutamente encantado com este país e que espero voltar em breve para explorar outras paragens, as chamadas Cidades Imperiais, vindo diretamente de carro, de Tarifa ou de Algeciras, e percorrendo o país a partir do Norte.

Alguns dos locais visitados são extraordinariamente cativantes, com a sua arquitetura tão genuína, com as cores das terras e das aldeias, que vão mudando sempre, com os kasbahs berberes, grandiosos ou já arruinados, e com tanta história para contar, com as montanhas e os oásis e, claro....com o deserto, não só o deserto de dunas, mas todas as terras desertas que vamos encontrando desde o Atlas e por todo o Sul do país. Mas para além dos locais visitados, o que realmente mais nos encantou foram as próprias pessoas, tão afáveis e tão simpáticas....e uma das experiências mais marcantes foi mesmo o contacto que tivemos com as famílias nómadas, nos seus acampamentos, com os seus parcos pertences....e com as suas crianças....as crianças que tanto nos tocaram e sensibilizaram....e foram os olhares tímidos daquelas crianças que nos haveriam de emocionar de uma forma tão intensa e completamente inesperada.

Termino referindo os instantes mágicos e quase indescritíveis que experimentámos quando nos deixámos ficar sobre as dunas, inspirando o ar frio das noites do deserto, apreciando um silêncio absoluto e contemplando o espetáculo magnífico de um céu infinito com mil estrelas cintilando, como só no deserto podemos encontrar.




Carlos Prestes
Janeiro de 2018