terça-feira, 5 de julho de 2016

Menorca

(Julho de 2016)

Esta era a nossa quarta visita às Baleares, depois de uma vez em Maiorca e duas em Ibiza. Mas a ilha de Menorca surge, sem dúvida nenhuma, como a melhor das três. E é melhor por ser mais bonita e também por ser mais calma e menos explorada, embora toda a oferta de hotelaria esgote durante o verão, a quantidade de hotéis não dá origem àquele turismo massificado que se verifica nas ilhas vizinhas. Além disso a costa revela-se mais preservada, integrada, toda ela, numa reserva ecológica, o que limita, por exemplo, a construção de estradas. Assim algumas das praias mais bonitas têm apenas acesso pedonal e por vezes só a corta-mato, o que, a nós, que adoramos caminhadas, constituiu um incentivo adicional, sobretudo porque no final de cada caminhada éramos recebidos por enseadas de areia branca e águas de um azul quase impossível. E esse é o grande atrativo da ilha… a água do mar. 

Quando consultamos folhetos turísticos que nos oferecem destinos paradisíacos, muitas vezes, ou quase sempre, as fotos promocionais são enganadoras porque, na realidade, nada daquilo é mesmo assim. Mas, em Menorca, todas as fotos que tínhamos visto revelavam aquela espécie de paraíso na terra e, quando lá chegámos, concluímos que era mesmo assim, sem tirar nem pôr. Mas há mais, porque, para completar este cenário inacreditável, a água ainda nos é oferecida com perto de 26º o que, para quem gosta de estar de molho, como nós, que adoramos passar horas seguidas no mar, aquele é o sítio ideal… vejam só:
Quisemos conhecer alguns tipos diferentes de praias, ou calas, que a ilha vai oferecendo em cada zona e, por isso, definimos uma série de percursos para visitarmos aquelas que considerámos mais apelativas e, dessa forma, tornou-se imprescindível alugar um carro. Também se podem fazer umas boas férias na ilha ficando apenas entre a piscina do hotel e a cala mais próxima… mas não será certamente a mesma coisa.

Tendo em conta este objetivo marcámos um pacote de oito dias com voo charter e estadia em hotel. O local escolhido foi bastante conveniente, junto à Playa Son Xorigue e à Cala em Bosc, onde se encontra uma marina cheia de esplanadas de restaurantes, bares e gelatarias, e equipada com todo o tipo de serviços e ofertas de passeios turísticos ou alugueres de carros e barcos.

O hotel escolhido foi o Grupotel Playa Club, um quatro estrelas com pequenas vivendas de dois pisos junto à piscina, muito recomendável. O regime que escolhemos foi a meia-pensão, para garantirmos abundantes pequenos-almoços e jantares, por ser a forma mais prática e confortável. 

No entanto, hoje escolheríamos de forma diferente e optaríamos por incluir apenas o pequeno-almoço. E aqui aproveito para registar uma bizarria corrente nos hotéis da ilha. É que apesar de estarmos em Espanha onde o hábito leva as pessoas a jantarem depois das 21h, os hotéis estão em sintonia com os hábitos dos alemães, que são madrugadores e jantam às 7h da tarde. Ora, com o horário dos jantares no hotel entre as 7 e as 9, estávamos impedidos de usufruir daqueles finais de tarde na praia até ao pôr-do-sol… e para conseguirmos fazer isso em dois dos dias, tivemos que abdicar do jantar e substitui-lo por uma merenda de piquenique para almoço que o hotel prepara. Além disso, com a oferta de restaurantes que a ilha tem, desde que se tenha carro alugado, claro, será possível tornar os serões bem mais agradáveis do que se forem passados no hotel… até porque, para nós, a habitual animação de hotel é algo de fugir.

Mas a ilha não são só praias, hotéis e restaurantes, tem também a sua história e a sua identidade, mas para que é que isso interessa se as praias têm areias brancas e águas azul-turquesa a 26º?... digo eu! Mas, mesmo assim, haverá algumas coisas a dizer sobre esta ilha. Geograficamente apresenta 46km de comprimento e 16km de largura e é praticamente plana, a menos de uma pequena montanha, o Monte Toro, localizado bem ao centro da ilha e que atinge 265m de altitude, de onde se pode contemplar uma excelente vista sobre toda a ilha. 
A ilha tem duas cidades de maior dimensão, no lado Este a capital Mahon e, no lado oposto, junto à costa Oeste, a Ciutadella. São cidades pequenas e preparadas para o turismo, cheias de restaurantes nas "calles" ou nas marinas, muito à espanhola. As zonas mais históricas, o chamado Casco Viejo, são também semelhantes às de outras cidades espanholas, com a típica catedral e com a Plazza Mayor, onde funciona a respetiva Câmara Municipal, ou Ayuntamento.

Em, como nas outras ilhas Baleares, as línguas oficiais são o castelhano e o catalão, o que faz com que os nomes de aldeias, cidades e até monumentos apareçam sempre nos dois idiomas.

Ao contrário das outras ilhas Baleares, Menorca só desenvolveu o seu potencial turístico bem mais tarde, o que faz com que as praias e paisagens naturais estejam mais preservadas. Antes desta mudança significativa da economia da ilha, Menorca produzia apenas alguma agricultura de pequena escala, que ainda mantém, com a criação de cavalos e gado bovino e caprino, e com a produção de queijo, o Queso Mahon, e artigos de couro, sobretudo o calçado. O calçado é ainda hoje um atrativo muito procurado com as famosas sandálias Menorquinas, quase um ex-libris da ilha, que são usadas massivamente pelos seus habitantes e bastante procuradas por turistas. 

Quanto ao turismo, quando Menorca passou a ser um polo concorrente com as outras ilhas criou-se uma ideia (pelo menos em Portugal) de que seria um destino muito mais caro. Mas não é verdade, para a mesma qualidade de hotéis os preços são muito semelhantes. O que acontece é que Ibiza e Maiorca estão cheias de hotéis dos anos 70 e 80, de qualidade muito duvidosa e de arquitetura monstruosa, e que poderão oferecer preços mais baratos. Em Menorca encontramos apenas uma meia dúzia desses prédios antigos, mas que estão a ser geridos pelos grandes grupos de hotelaria, como o Melia, que recuperaram os edifícios e mantêm o nível das quatro estrelas. Mas a grande maioria da hotelaria local é constituída por excelentes resorts com pequenos edifícios integrados num espaço cuidado com jardins e piscinas. Neste momento a ilha atrai muitos turistas que vêm sobretudo das ilhas Britânicas e da Alemanha, embora também se encontrem bastantes italianos e, claro, também muitos espanhóis. Já portugueses não são assim tantos, estão limitados aos charters que fazem o voo direto, ou então obriga a uma escala que faz com que uma viagem de duas horas passe a durar quase um dia inteiro. 

Menorca tem também algum interesse patrimonial, sobretudo pelos vestígios pré-históricos que abundam na ilha. Encontram-se vários monumentos megalíticos (navetas, talayots e taulas), e também galerias e cavernas no interior dos rochedos, que terão funcionado como necrotérios. Todos estes locais de importância arqueológica estão devidamente identificados. Há também uma basílica paleo-cristã nas imediações da praia de Son Bou e as ruínas de uma fortaleza na colina de Santa Agueda, o último ponto de resistência dos muçulmanos antes da reconquista por Alfonso III em 1287. No Monte Toro, está localizado o Santuário da Virgen del Monte Toro (padroeira de Menorca). Em Ciutadella destaca-se a Catedral de Santa Maria Cidadela, construída entre 1300 e 1365, que combina os estilos gótico e neoclássico. 

A ilha é cercada por um caminho antigo, o Camí de Cavalls, com uma extensão de cerca de 210 km. Este caminho garante o acesso pedonal por toda a costa permitindo chegar a qualquer praia, embora por vezes seja necessário percorrer alguns trilhos de acesso mais penoso. 


Dia 1

Este primeiro dia serviu para nos instalarmos no hotel e usufruirmos da piscina, já que nos restantes dias, só a iríamos utilizar muito pontualmente nos finais de tarde.

Aproveitámos ainda para tratar do aluguer de carro para o final do dia seguinte. Chamo a atenção que a ilha dispõe de muitas alugadoras locais pelo que será mais vantajoso fazer o aluguer na hora do que reservar pela internet através das companhias maiores, que são sempre mais caras. Além disso o aluguer do carro no hotel também sai sempre mais caro. Assim, fomos diretamente à zona dos escritórios das alugadoras e acabámos por optar pela Autos Valls. A política de aluguer da ilha é quase sempre com seguro de franquia zero, o que é fundamental. Com alguns caminhos de cabras que acabamos por percorrer no acesso a certas praias, é possível que se possa entregar o carro com riscos ou outros danos, o que daria origem ao pagamento de verbas muito superiores ao próprio custo do aluguer. Por isso, tenham muita atenção a esta exigência.


Dia 2:

Ainda sem carro, quisemos explorar a zona do hotel, as praias e a marina, fazendo pequenos percursos a pé. A apenas 200m do hotel ficava a Playa Son Xorigue, uma enseada com algumas línguas de areia entre pequenos rochedos, que nos permitiu a primeira visão dos azuis-turquesa que quase encandeiam e a primeira experiência da magnífica temperatura da água. 
A nossa sensação foi que aquela praia já seria o suficiente para toda uma semana de férias, pela qualidade das paisagens e daquelas águas… porém estávamos enganados.

Esta praia é das poucas da ilha que, de vez em quando, tem algum vento, o que é logo aproveitado para se fazer windsurf e kit-surf, e daí a existência de uma escola e posto de aluguer dessas modalidades, mas, no dia em que lá estivemos, nem uma brisa corria.
A cerca de 700m fica uma outra praia, a Cala en Bosc, uma pequena enseada, com o areal bastante mais preenchido por banhistas, o que, para nós, nem foi um problema, uma vez que entrámos na água e por lá fomos ficando longos períodos de cada vez, tal era o gozo de desfrutar daquelas águas quentes e transparentes.

Logo atrás da Cala en Bosc fica uma marina bastante concorrida, cheia de esplanadas de restaurantes de todos os tipos e origens e também muitas lojas com produtos locais, como tshirts estampadas com motivos típicos da ilha ou as típicas sandálias Menorquinas. É nessa zona comercial que ficam as alugadoras de automóveis e ficam também as empresas que organizam percursos de barco para visita às melhores praias da ilha, para quem optar por essa alternativa.
Quanto à possibilidade de alugar de barco, certamente será um grande privilégio podermos visitar a magnífica costa desta ilha usando um barco em vez de um carro… e é bem verdade. A questão é que, para que essa viajem possa constituir um acontecimento inesquecível será necessário usarmos um barco privado, pelo qual se paga uma pequena fortuna, e mesmo para um grupo de 6 ou 8 pessoas o preço por cabeça ainda ficará demasiado elevado, mesmo que seja apenas para uma viagem curta de duas ou três horas. 

Aí é natural que se tente optar pela outra alternativa, um barco coletivo que faz uma viagem às chamadas praias virgens (viagem de 3 horas com passagem nas calas Son Saura e Talaier e paragem para banhos nas calas Macarella e Turqueta, pelo preço de vinte e poucos euros por pessoa – junto à marina da Cala en Bosc na agência Los Amigos). Mas não contem com nada muito entusiasmante, o barco enche-se de turistas até às costuras, sem garantir qualquer espaço pessoal ou privacidade… pelo menos foi o que achámos que aconteceria, porque preferimos não fazer este passeio de "cacilheiro" à hora de ponta e, em vez disso, fomos visitando todas estas praias chegando de carro e ficando por lá várias horas.

Para quem, como nós, preferir explorar a ilha de carro, fica aqui a localização dos pontos principais desta visita e dos respetivos percursos, que mais à frente irei descrever:
 

Estas nossas férias em Menorca coincidiram com um período muito peculiar para as emoções dos corações portugueses, isto é, apanhámos lá os dois últimos jogos do Euro 2016. Nessa noite preparei-me para ver a nossa seleção derrotar o País de Gales e conquistar um lugar na final. Ao contrário do que se terá passado em território português, onde a festa terá decorrido até altas horas da madrugada, eu vivi apenas uma comemoração solitária, nem a família me acompanhou... já dormiam, é uma hora mais tarde… ainda gritei duas ou três vezes por Portugal, e lá fui também dormir, é que nem na televisão se falava do assunto. Mas no dia seguinte e nos próximos, passei a envergar uma bandeira lusa na mochila, o que me valeu algumas felicitações e votos de boa sorte para a final.


Dia 3:

Depois de acordar com a boa disposição causada pelo resultado da véspera, e depois de mais um pequeno-almoço digno de reis, seguimos para uma viagem até às praias da zona de Ferreries, as Calas Mitjana e Galdana, o que obrigava a um percurso de carro de cerca 35km.
Iríamos passar a tarde e acabar o dia na Cala Galdana, junto a um povoado com uma oferta turística diversificada, com hotéis, lojas e restaurantes e toda a manhã numa outra praia muito menos acessível e bastante mais virgem, a Cala Mitjana.
Deixámos o carro no parque que está definido como estacionamento de apoio a esta cala... e vou sempre referir os parques escolhidos porque constituem um dos problemas para acesso às melhores praias da ilha… mas, neste caso, o parque era gratuito e suficientemente extenso para acomodar os muitos carros que ali se encontravam. 

O percurso até à Cala Mitjana ainda é bastante longo, cerca de 1,5km sempre a caminhar e, ao chegar à praia ficámos desiludidos, com a sensação que era daquelas praias em que não se consegue esticar uma toalha, tal a concentração de turistas que encontrámos… afinal, de virgem a praia não tinha nada. Mas, na verdade, a areia era o menos importante daquela praia, deixámos as toalhas e a roupa debaixo do chapéu-de-sol e entrámos na água e só aí percebemos o que é que aquele lugar tinha de excecional… passámos horas seguidas naquelas águas quentes e transparentes e, de repente, aquele areal cheio de gente deixou de importar, porque o mais interessante era aquele mar incrível.

Nadámos e mergulhámos com máscaras de mergulho, para contemplar também o fundo do mar, entre os rochedos que formam a enseada e as grutas que fomos explorando, sempre deslumbrados por aqueles azuis muito vivos.

Continuando sempre a nadar chegámos até a uma Cala mais pequenina, vizinha da Mitjana, a chamada Cala Mitjaneta

É apenas uma pequena enseada, com alguns pontos de acesso à costa, ou através de pequeninas faixas de areia ou por uma escada metálica que galga a parede de rocha, atingindo um patamar com uma prancha de saltos que convidava a uns mergulhos, que também experimentámos, e de onde se pode contemplar a vista esmagadora da Cala Mitjana lá ao fundo, num enquadramento que parecia saído de um postal ilustrado.

Regressámos à Mitjana depois de alguns mergulhos do rochedo e de algumas paragens ao longo das margens, sempre sem pressa para chegar até à toalha, a não ser para beber das garrafas de água que tínhamos trazido. Algumas horas depois e já quase a ficarmos engelhados de tantas horas de molho, demos por terminada uma manhã extraordinária entre as Calas Mitjana e Mitjaneta, em águas de um azul magnífico e com uma temperatura quase inacreditável. 

Íamos agora percorrer mais uma caminhada, seguindo pelo chamado Cami de Cavalls, até à próxima praia, a Cala Galdana. Mas antes teríamos ainda a oportunidade de contemplar as mesmas vistas sobre as duas calas, mas desta vez a partir do topo da encosta, o que revelava aquelas paisagens ainda mais incríveis e paradisíacas.

A caminhada desde o estacionamento até à Cala Mitjana e depois até à Cala Galdana, já ia com cerca de 3km, atravessando sempre bonitas paisagens por entre as árvores e seguindo literalmente os trilhos abertos pela passagem de cavalos, mais ou menos por este percurso:
Enquanto descíamos até à próxima baía, numa zona tão densamente arborizada que mal nos deixava ver o que viria depois, começámos pouco a pouco a vislumbrar as imagens magníficas da Cala Galdana.

Mas mais em baixo, já próximos da praia, iriamos descobrir um pequeno (ou talvez grande) senão... em pleno recorte de uma costa totalmente arborizada, surge um prédio dos anos 70 ou 80 que emerge da vegetação, atualmente com a chancela de Hotel Melia, mas que condiciona a paisagem que podia ser de sonho e assim é apenas bonita.
De qualquer maneira tínhamos chegado à praia da Cala Galdana, menos virgem que as praias anteriores, até porque este é um lugar com algumas urbanizações turísticas, mas ainda com os mesmos atributos... a água quente e transparente e de um incrível azul-turquesa. 

Fizemos toda a tarde na praia sem a preocupação de chegarmos a horas para jantar no hotel seguindo a ditadura dos horários agendados para alemães e nórdicos, porque programávamos sair essa noite até à cidade de Ciutadella.

Assim, esticámo-nos ao sol, desta vez num espaço muito mais folgado do que na cala Mitjana, mergulhámos e nadámos vezes sem conta e percorremos toda a baía, e fizemos ainda uma paragem num restaurante panorâmico no lado oposto, para um almoço ligeiro, de onde era possível apreciar a vista da baía de um outro ângulo. 
Foi um grande dia de praia, regressámos ainda ao hotel para uns mergulhos refrescantes na piscina e para nos prepararmos para uma saída de final de tarde até à Ciutadella.

A cidade da Ciutadella é bastante bonita, sobretudo quando a avistamos à distância, com a silhueta dos seus edifícios históricos, que se erguem sobre a baía onde se forma uma pequena marina natural.
Passámos por lá a noite, num espaço bem animado com vários atrativos para turistas, como restaurantes, gelatarias, lojas, quiosques de artesanato e outros espaços capazes de cativar quem por lá passava.

Esta foi a noite em que os muitos alemães que ocupavam a ilha estiveram colados aos ecrãs de televisão para concluírem, mais tarde, que o Euro tinha acabado para eles e que o finalista iria ser a França… e para os poucos franceses que encontrámos, aquela vitória já era praticamente a conquista do título, faltava apenas um jogo em Paris e com os coxos dos portugueses.


Dia 4:

Depois do dia anterior bastante preenchido optámos por fazer um percurso menos ambicioso, rondando pelas praias da zona de Ciutadella e regressando a meio da tarde para conseguirmos usufruir um pouco da piscina do hotel.
No litoral Norte, a cerca de 15km da Ciutadella, seguindo o caminho de acesso à Cala Morel, encontramos um desvio que nos conduz por um caminho estreito e sinuoso, mas pavimentado, que nos leva até à Cala La Vall ou Cala d'Algariens. Ao longo dessa estrada é impossível pensar em estacionar, aliás até o simples cruzamento de duas viaturas em sentidos opostos já se afigura como uma missão quase impossível, mas, felizmente, quando a estrada acaba, existem dois recintos em terra batida para estacionamento. Se existirem lugares no segundo parque, o acesso à praia faz-se depois por um carreiro com cerca de 300m. Se for necessário deixar o carro no primeiro parque há que contar com uma caminhada de 750m. Mas neste dia a praia estava quase vazia e não tivemos problema em estacionar no parque mais próximo.

As praias que encontramos são verdadeiramente virgens, muito menos concorridas do que as da costa Sul. Estão integradas numa enseada com o nome de cala La Vall ou cala d'Algariens, formada por falésias baixas e cobertas de pinheiros. Este trecho do litoral faz parte de uma zona de proteção especial para aves da União Europeia. A baía fica abrigada dos ventos o que contribui para que as águas se mantenham paradas formando uma marina natural e um ótimo local para fundear veleiros, para quem percorre a ilha à vela. A forma desta enseada é peculiar, tem a configuração aproximada de um coração invertido, e nos seus contornos definem-se duas línguas de areia. Apesar de se poder considerar que se tratam de praias de areia branca, não a encontramos tão clara como nas praias do Sul, embora seja igualmente fina.

A primeira praia, a mais próxima do estacionamento, é a Playa des Tancats, a maior e a mais concorrida, e ainda com alguns traços de civilização, por exemplo, a praia dispõe de vigilância e é possível alugar uma canoa, já que a baía se revela como uma pista fantástica para esse desporto. 
Do outro lado da falésia central que invade a baía formando o contorno do tal coração, fica a praia mais pequena e muito mais deserta, a Playa des Bot.
A distância entre as duas praias é relativamente pequena, faz-se em 15 min, mas o acesso é tortuoso, atravessando uma mata densa e passando por uma zona de duna, junto a uma lagoa onde são visíveis algumas espécies de aves.

A praia é naturalmente pouco frequentada e será até propícia para a prática do nudismo, mas tal não acontecia naquele dia… apenas topless, mas isso já é uma prática corrente em todas as praias da ilha. 

Depois de uma manhã tranquila na Playa des Bot, a mais distante e de acesso mais difícil, porque já é normal nós escolhermos sempre as soluções mais espinhosas.... as facilidades são p'ra meninos, seguimos então até à Cala Morell, a poucos quilómetros, onde pretendíamos parar para almoçar.

Trata-se de uma aldeia de pescadores com uma pequena enseada cavada na rocha, sem uma praia minimamente atrativa, mas com a particularidade das casas serem todas brancas e terem também os telhados brancos, dando uma certa peculiaridade à paisagem.

À saída da aldeia parámos ainda num monumento pré-histórico, a Necrópole Talayotic, com entrada livre num conjunto de cavernas pré-históricas bem cuidadas. Não sou grande fã do género mas, apesar disso, quem por lá passar não deverá perder uma espreitadela ao site arqueológico, que está devidamente assinalado em várias estradas.

Toda a costa a Oeste da Ciutadella é composta por rochedos rasgados por enseadas ou calas muito estreitas, que permitem o acesso ao mar em vários locais, normalmente através de patamares na rocha equipados com pranchas para saltos e escadas metálicas, oferendo assim uma forma diferente para aproveitar aquelas águas, mergulhando, nadando e regressando ao rochedo para banhos de sol. 

Ao longo dessa zona da costa passámos por algumas dessas enseadas, apenas para observar e não para entrar na água. Estivemos na Cala'n Forcat onde o mar estava bem apetecível e havia alguns banhistas. 
Depois caminhámos até à Cala'n Brut e à Cala'n Blanes e aí ficámos perplexos com o que vimos. Primeiro estranhámos que as pessoas se estendiam ao sol pelos vários patamares do rochedo mas que ninguém mergulhava ou nadava. Mais próximos do nível do mar verificámos que aquelas águas estavam infestadas de medusas, o que nos arrepiou e nos dissuadiu completamente da hipótese de podermos dar um mergulho naquela zona. 

Seguimos depois já na direção do hotel fazendo dois pequenos desvios. Passámos pela Cala Santandria, uma língua de areia rodeada de hotéis e restaurantes, com uma água calminha e apetecível mas com um enquadramento paisagístico pouco simpático.

O último desvio levou-nos ao Farol de Artrutx, o ponto da ilha mais próximo da vizinha Maiorca, que se torna perfeitamente visível a partir daquele local de observação.

Estávamos a meio da tarde e tínhamos oportunidade de fazer umas horas na piscina, que era excelente e mal a tínhamos ainda utilizado, ou ir até à praia mais próxima, a Playa Son Xorigue, que neste dia se apresentava cheia de ondas, para animar os praticantes de windsurf... e acabámos por fazer ambas as coisas.


Dia 5:

Mais um dia e mais um novo desafio. Desta vez programámos um percurso mais longo, quase 150km atingindo a zona Este da ilha, próximo da cidade de Mahon, passando por praias na costa Norte, e acabando depois já a Sul.
O primeiro destino foi o pueblo de Arenal d'en Castell. O Arenal tem uma praia semi-urbana, encostada a um povoado turístico, composto praticamente por hotéis e aldeamentos para utilização turística. A urbanização desenvolve-se ao longo da encosta e lá em baixo fica o areal de areia branca e fina, à frente do qual se espraiam as águas do Mediterrâneo, normalmente calmas e com um azul vivo. A baía, em forma de uma ferradura com quase 360º, e a praia que lhe define o contorno, formam um conjunto que pode ser considerado como um dos mais belos locais da costa Norte da ilha.

A vista que se pode contemplar a partir do alto da encosta, sobretudo de manhã ainda cedo, quando a praia está vazia, é perfeitamente maravilhosa e, neste caso, uma imagem vale mais que mil palavras.
Mas neste lugar, como noutros, há um senão que perturba a beleza da paisagem. Refiro-me à existência de dois prédios com 30 ou 40 anos, demasiado altos e demasiado quadradões, e que desfiguram completamente as bonitas panorâmicas que podem ser vistas a partir da baía. Tratam-se de dois hotéis, o Club Hotel Aguamarina e o Fiesta Hotel Castell Playa, que proporcionam certamente aos seus clientes uma vista de tirar o fôlego, mas que perturbam a paisagem do local, destacando-se na silhueta da encosta pelas piores razões. Mas é possível passar um dia na praia sem que esta perturbação paisagística nos incomode, porque a água é tão maravilhosa, de temperatura e de cor, que nem damos pelos dois mamarrachos salientes da linha de cumeeira.

A baía é protegida dos ventos e das correntes e é a marina ideal para funcionar como porto de abrigo para todos os marinheiros que percorram a costa Norte da ilha. 
Chegámos à praia estacionando com relativa facilidade (o que é importante) e por lá ficámos algumas horas. A praia entretanto começou a ficar mais preenchida e começaram a chegar alguns barcos, mas estava ainda muito longe de estar cheia. Tem uma frequência muito familiar, com bastantes crianças, e aquelas águas são autênticas piscinas para que os miúdos possam brincar à vontade.
Passámos uma manhã de praia extraordinária, voltámos a ficar dentro de água horas seguidas, nadando ao longo de toda a baía e depois subimos para nos espreguiçarmos ao sol sobre aquela areia finíssima, e desta vez com espaço folgado para toalhas e chapéu-de-sol. 

Existe no local bastante oferta de bares e restaurantes ao longo da baía, quer se queira almoçar de faca e garfo, e nesse caso podem escolher algumas das esplanadas na encosta com aquela vista magnífica, quer seja apenas para umas tostas ou uns bocadillos, e umas cervejas ou refrigerantes, e para isso existem bares em plena praia onde podemos comer com o pé na areia.

Ao final da manhã, saímos sem almoçar porque trazíamos umas caixas de merenda que o hotel nos forneceu em substituição do jantar que não iríamos utilizar, e contávamos fazer um belo piquenique à beira mar junto ao farol de Favaritx, mais à frente.

Na despedida deste local saímos com vontade de regressar àquele espelho de água esplendoroso, e àquela paisagem soberba… embora, desta vez, sem conseguir evitar a visão de um dos mamarrachos.
Partimos para um percurso de cerca de 20km, atravessando um lugar inóspito, lembrando uma paisagem lunar, ladeado por uma lagoa temporária, na altura totalmente seca, chamada Cós des Síndic. Trata-se de uma lagoa peculiar, que se alimenta tanto pela água da chuva como pela água do mar, durante as fortes tempestades. Tem um papel muito importante ao nível do equilíbrio ecológico da zona e contém uma grande riqueza biológica, funcionando como área de descanso, alimentação e reprodução de diferentes espécies de aves. 

Mais à frente, cerca de 300m depois da lagoa, surge imponente, sobre o promontório rochoso, enfrentando a bravura do mar (nos dias de temporal), o Farol de Favaritx, o mais famoso dos vários faróis que estão distribuídos ao longo de toda a ilha. 
Foi construído em 1922 usando ardósia preta, a rocha que forma todo maciço do cabo sobre o qual o farol foi erguido.
A paisagem do cabo de Favaritx é diferente de qualquer outra que pode ser vista na ilha. Um maciço sem qualquer vegetação, constituído por ardósia preta laminada, com alguns penhascos íngremes no contorno do cabo e as águas sempre com aquele azul vivo. 

Foi aí, sobre o rochedo, aproveitando o fresco da brisa marinha, que degustámos a merenda que nos tinham preparado e que, com a fome que já se tinha instalado, nos soube pela vida.

Mudámos a posição do carro para nos aproximarmos do acesso pedonal à próxima praia e partimos para uma caminhada durinha, apesar de serem apenas cerca 400m, mas com o piso irregular, cheio de afloramentos de xisto. O calor apertava e a subida era inclinada, pelo menos até meio, terminando depois numa descida íngreme até ao areal da Cala Presili

No final da subida fomos brindados por uma paisagem perfeitamente magnífica, com a praia lá em baixo e o farol ao fundo.

Chegados à Cala Presili atingimos o paraíso, uma baía lindíssima com o farol à distância, com uma língua de areia branca e fina e com pouca gente. As águas estavam ainda mais quentes que as das restantes praias da ilha. À direita da baía forma-se uma outra praia, semelhante a esta, a Cala Tortuga. 

Usámos e abusámos dos banhos de mar sem que nos apetecesse sair deste local… uma praia de sonho. Mas lá acabámos por subir a encosta, novamente sob um tórrido calor até chegarmos ao carro e fazermos o próximo trajeto.

Pelo caminho passámos por Mahon, mas sem entrarmos na cidade, e seguimos pela estrada junto ao aeroporto, num total de 35km até à Cala en Porter.
Uma praia que serve a urbanização turística com o mesmo nome, onde tivemos a oportunidade de voltar a nadar, mergulhar e ficar a preguiçar até ao final da tarde.
Ainda tínhamos outros planos para o resto do dia e por isso usámos o chuveiro da praia para um duche improvisado e trocámos de roupa para algo mais apropriado a uma saída noturna.

Bem próximo da Cala en Porter, no alto da colina, fica a Cova d’en Xoroi, um bar num espaço cavado na rocha, formando um conjunto de cavernas e túneis, pendentes sobre o mar, onde funciona uma espécie de bar-discoteca que é bastante frequentado pelos turistas. Até às 15h o espaço é de frequência mais generalizada, mesmo para quem vem com roupa de praia. Depois dessa hora, e sobretudo a partir do final da tarde, é exigido algum cuidado no dress-code, embora se aceite o “casual”, mesmo as havaianas e os calções. Nessa hora o preço dos ingressos aumenta para 12€ com direito a um refrigerante ou uma cerveja. Já lá dentro e com a possibilidade de desfrutarmos de uma vista infinita sobre o mar, optámos por fazer o upgrade às bebidas e, por mais 3€ por pessoa, bebemos umas caipirinhas (sem álcool, para as miúdas) e uns gins.

Para além da história geológica que está na origem dos patamares, túneis e grutas, que formam este local, contam-se várias histórias que ali terão ocorrido, algumas delas estão escritas no interior do bar, mas que nos parecem não mais do que lendas ou mitos.

A música com que o DJ vai animando o local contribui para um ambiente agradável, sempre dominado pela vista proporcionada. Mas o prato forte do local é a hora do pôr-do-sol, que tivemos a sorte de presenciar. Nessa altura o espaço adquire tons de fogo e as pessoas celebram os instantes em que o céu se vai tornando amarelo e depois alaranjado, até que o sol se vai escondendo para lá das falésias sobre o mar, criando um quadro fascinante, num momento que é vivido por toda a gente como algo de místico, muito para além de um vulgar pôr-do-sol num outro local. 



Para terminar este dia pode-se optar por ir até Mahon, a capital da ilha, passar o serão e jantar num dos muitos restaurantes na marina. Para nós não foi possível visitar a cidade de forma conveniente... terá de ficar para a próxima.


Dia 6 (10 de Julho):

Um dia que se iria a revelar muito especial, embora tenha começado como todos os outros, ou seja, da melhor maneira… entre panquecas, churros, huevos rotos e muitas outras iguarias com que o hotel nos brindava todas as manhãs.
 
Desta vez saímos mais cedo para garantir lugares de estacionamento numa das chamadas Playas Virgens e, neste caso, o objetivo era chegar ao parque da praia de Son Saura.

Esta gestão dos estacionamentos ao longo das praias virgens pode ser relevante para a programação de qualquer estadia em Menorca, por isso passo a explicar mais em pormenor. Estas praias localizam-se no Sul da ilha numa extensão de costa com cerca de 6km, que também podem ser percorridos a pé, através do já mencionado Cami de Cavalls. Mas de carro neste espaço encontramos três parques de estacionamento, o primeiro, de quem vem de Oeste, fica próximo da baía de Son Saura, a meio fica um outro parque, na Cala Turqueta e, por fim, já no lado Este, fica o parque da Cala Macarella.

Na imagem seguinte mostra-se todo o caminho pedonal com a localização das principais praias, que aparecem pintadas de azul turquesa.
Cada um destes parques tem um número limitado de lugares pelo que será necessário chegar cedo e, neste dia, bastou chegar às 9h30 e arranjámos lugar onde queríamos. De qualquer maneira, ao longo da via de circunvalação à cidade de Ciutadella, existem placards eletrónicos com o número de lugares livres em cada parque ou com a indicação a vermelho de que está esgotado, o que nos ajuda a tomar a decisão do parque que devemos escolher.

O caminho de carro para estas praias passa sempre pela circular junto à Ciutadella, o que nos obriga a fazer mais quilómetros do que seria suposto se, por exemplo, resolvêssemos fazer o percurso pedonal pelo caminho de cavalos, que neste caso seria apenas de 5km, em vez dos 22km pela estrada... como se mostra neste mapa:
Desta vez estacionámos em Son Saura, uma baía com duas praia lindíssimas que, àquela hora da manhã, estavam ainda completamente desertas e com uma beleza sublime, a Playa d'es Banyul e, sobretudo, a Playa de Bellavista… um autêntico paraíso.

Demorámo-nos por ali algum tempo, apenas com os pés na água mas sem mergulhar, apesar de estarmos preparados com várias mudas de fatos de banho não quisemos entrar na água, tínhamos pouco mais de 1,5km para caminhar até à nossa primeira paragem mais demorada, na Cala des Talaier. No entanto não conseguimos deixar aquele local sem ficar por ali algum tempo sentados nas rochas a apreciar uma paisagem quase inacreditável de tanta beleza e sob um silêncio incrível… se Deus existir, terá deixado ali a sua marca bem vincada.

O Cami de Cavalls permite o acesso a todas as praias, embora alguns dos trilhos sejam de dificuldade mais elevada. Neste primeiro troço de pouco mais que 1,5km, atingimos uma das calas de que mais gostei, a Cala des Talaier, à qual só se chega caminhando, vindo de Son Saura, como nós, ou da Cala Turqueta, num percurso ligeiramente mais longo, de cerca de 1,8km. O facto de não existir estacionamento nesta cala obriga sempre a uma caminhada em corta-mato, o que reduz bastante a quantidade de turistas na praia, por exemplo, as famílias com crianças evitam normalmente as caminhadas mais longas.

Ao percorrermos aquele caminho num dia de calor como este, vamos ficando ávidos por um mergulho e, mal atingimos a zona da praia, corremos para aquelas águas maravilhosas num clímax perfeito.

A praia da Cala des Talaier é um espetáculo... mais do mesmo, continuo a repetir-me mas neste dia as praias revelaram todas uma beleza muito especial, são praias genuinamente virgens, sem vestígios de construções ou outros traços humanos, apesar da praga dos turistas... que, afinal, é o que nós somos.


O resto é a história do costume, banhos e mais banhos, nadando ao longo de toda a enseada, parando para uns momentos ao sol ou para uns instantes de leitura... e assim ficámos toda a manhã.

Mais tarde resolvemos partir para a caminhada seguinte, desta vez até à Cala Turqueta, ao longo de quase 2 km, e cada vez afastando-nos mais do parque onde estacionámos.

Logo que deixámos a praia voltámos a ficar deslumbrados com uma nova perspetiva da mesma cala, e não hesitámos em tirar novas fotos do mesmo local.

O caminho é também uma parte importante do dia, não é só sacrifício, sobretudo pelo efeito surpresa que se vai experimentando quando, ao virar de cada falésia, nos aparecem novos postais ilustrados... neste caso, uma pequena cala antes da praia principal e depois uma vista que enquadrava toda a baía da cala Turqueta, numa paisagem maravilhosa.

Atingimos a praia, bem mais frequentada do que a anterior, desde logo porque é apoiada por um parque de estacionamento muito próximo do areal, que é aquele que enche mais cedo, não o chegámos a utilizar mas admito que seja também mais pequeno do que os outros.

A praia já tem algum apoio, embora não muito, mas tem pelo menos nadador-salvador e auxílio de primeiros socorros.

Sendo uma praia que vista por si só seria fantástica, quando a comparamos com as duas praias anteriores fica claramente alguns furos abaixo. Porque tem muita gente, tem mais barcos e até a zona de areal e de rochedo é menos cuidada, com algumas barracas, uma espécie de grutas, suponho que de pescadores, mas com um aspeto um pouco manhoso.

De qualquer maneira fizemos a nossa habitual paragem para banhos de mar e de sol.

Mais tarde ganhámos coragem para regressar e despedimo-nos destas vistas fantásticas voltando ao Cami de Cavalls.
Desta vez esperavam-nos 2,3km até ao carro, mas ao fim da primeira etapa não conseguimos resistir a um mergulho de despedida na Cala des Talaier e só então fizemos o último trajeto até ao carro e depois de volta até ao hotel, para uma noite de futebol que iria ser escaldante!!!

Jantei com o estômago meio embrulhado antecipando a grande final do Euro, até que chegaram as 21h, lá em Espanha, 20h em Portugal. Foi uma noite de loucos, talvez a noite mais especial da história de Portugal. Desta vez consegui juntar a família à frente do televisor e a sofrerem comigo pela nossa seleção. Era a minha sétima final europeia, depois de ter perdido as outras seis (cinco do Benfica e a final de 2004 com a Grécia). Portanto, a probabilidade era quase de 100% a favor de mais uma derrota. O jogo foi o que todos sabem, o fado do costume, sempre dramático, bem à portuguesa... a lesão do craque que sai em lágrimas, um guarda redes que defendeu tudo, ele e o poste, e depois um herói improvável... e o pior de tudo foram aqueles últimos 10 ou 11 minutos até ao apito final, cada minuto com 60 segundos que me foram desesperando, e eu já só dizia: eu não aguento isto... e não estava mesmo a aguentar.

Mas depois o árbitro apitou e, enquanto Portugal terá explodido de alegria e exaltação coletiva, eu cometi a loucura de chegar à piscina e gritar por Portugal uma meia dúzia de vezes, mas com cuidado para não acordar os outros clientes do hotel.

Passei assim uma noite de euforia reprimida e sem conseguir dormir, e ainda hoje me sinto engasgado.

Foi assim que vivi a grande vitória da seleção nacional no Euro 2016, um acontecimento que mudou a existência de todo um povo, e me tocou também a mim, tendo marcado definitivamente estas férias de uma forma inesquecível.



Dia 7:

Acordei na manhã seguinte após uma noite quase sem dormir pela adrenalina que ainda borbulhava. Cantámos os parabéns à nossa Martinha, que fazia 12 anos, e seguimos até ao pequeno-almoço, felizes e orgulhosos pelo título da véspera, envergando a bandeira nacional, para que alemães e espanhóis se roessem de inveja. Pelo caminho resolvemos registar numa selfie aquela que seria a nossa foto oficial na qualidade de campeões europeus. 
Restava-nos apenas um dia de praia que queríamos aproveitar da melhor forma, sobretudo pela sensação de que não seria tão cedo que iríamos voltar a desfrutar de praias tão paradisíacas. 

Guardámos para o fim o conjunto de duas praias que são o ex-libris da ilha e que servem de capa à maioria dos folhetos promocionais do turismo local, as Calas Macarella e Macarelleta, que fazem também parte do conjunto das Playas Virgens.

Voltámos a chegar cedo, outra vez às 9h30, com o mesmo objetivo do dia anterior, garantir um lugar no estacionamento, o que conseguimos com facilidade, o parque ainda estava quase vazio.

Todos os parques que utilizámos anteriormente foram gratuitos, mas neste, junto à Macarella, cobram 5€ por todo o dia. Quem não consiga lugar neste parque tem uma outra forma de chegar a estas calas, conduzindo até à Cala Galdana e estacionando num dos parques dessa urbanização (porque deixar o carro ao longo dos acessos às praias virgens não é solução, as estradas não têm largura suficiente para isso). Assim, deixando o carro na Galdana, pode-se seguir pelo Cami de Cavalls e ao fim de 2,5km chega-se à Cala Macarella.

Aproveitámos o facto de ser ainda cedo e a praia estar vazia e ficámos na Cala Macarella, que vai ficar muito mais concorrida passadas algumas horas. Mas, nesta altura, assim com pouca gente, a praia estava um espetáculo e era talvez a mais bonita de todas as praias da ilha.

Mergulhámos e explorámos recantos e grutas e chegámos mesmo a nadar até à praia da Macarelleta, a irmã mais pequena da Macarella, aproveitando aquelas águas quentes e aqueles azuis turquesa, como temos feito todos os dias... até que a praia começou a encher e foi perdendo metade do encanto. 
Assim, passadas algumas horas, resolvemos percorrer o trilho de cerca de 500m que liga as duas calas, e que é, por si só, um percurso obrigatório pelas paisagens que oferece de ambas as praias vistas do alto da colina que o trilho vai percorrendo.

Chegados à Macarelleta ficámos encantados, a praia é uma delícia. A beleza natural não é perturbada pelos banhistas que a ocupam porque é sempre muito menos concorrida, talvez possam aparecer alguns grupos de nudistas… mas isso não é nada que incomode.

Demos uns últimos mergulhos naquelas águas magníficas com a sensação de que esta ilha teria de ser revisitada, não nos podíamos despedir assim de um lugar tão paradisíaco como este sem pensarmos que iriamos ter a oportunidade de regressar... e foi assim que nos afastámos, com um adeus que não era mais do que um até logo. 

Voltámos a percorrer o trilho de regresso até à Macarella e registámos as últimas imagens como se assim fossemos fazer com que este local espetacular perdurasse nas nossas memórias por muito tempo.

Regressámos ao hotel para um último jantar e para fazer as malas preparando o regresso a casa no dia seguinte, e lá fomos nós de novo dar uma volta enorme de carro, para fazer um percurso que seria só um pulinho se fossemos em linha reta.

No dia seguinte saímos a caminho do aeroporto deixando para trás um dos melhores locais de praia onde já fizemos férias. Para além do destino, propriamente dito, sobre o qual já enalteci o suficiente ao longo destas páginas, as férias foram ainda potenciadas pelas condições climatéricas, com o sol a dominar os céus durante toda a semana, e também, claro, pelas vitórias da seleção nacional até ao feito histórico alcançado, o que muito contribuiu para uma boa onda que nos foi acompanhando... que ilha extraordinária e que férias de sonho que aqui passámos. Saímos com a certeza de querer voltar.

Carlos Prestes
Julho de 2016

Voltar à página inicial do Blog