quinta-feira, 2 de maio de 2002

Maldivas (Uma semana de mergulho)

(Maio de 2002)


A Viagem:

Que melhores férias se poderão fazer do que a nossa própria lua-de-mel, uma viagem de sonho que queremos partilhar com quem escolhemos para partilhar toda a nossa vida…..e que melhor local para esse momento tão sedutor do que um paraíso na terra como o arquipélago das Maldivas.

Foi essa a nossa escolha….foi esse o palco do nosso encantamento. As Maldivas, um local paradisíaco que quisemos desfrutar neste momento tão importante da nossa vida, aproveitando tudo aquilo que este pequeno país nos podia oferecer.

Para além de ser o local ideal para namorar num cenário de lua-de-mel, esta escolha teve ainda um outro propósito. É que além de gostarmos imenso de luas-de-mel….naturalmente, gostamos também muito de praia e de mergulho e, nesse aspeto, não haverá melhor sítio no nosso planeta com praias tão maravilhosas e locais para mergulhar tão fantásticos. 

Assim, partimos uns dias depois de nosso casamento a 20 de Abril de 2002, num voo da Lufthansa com escala em Frankfurt, para fazermos cerca de 10 mil km até à cidade de Malé, capital do arquipélago das Maldivas, localizado em pleno Oceano Índico, a cerca de 500 km da Índia e do Sry Lanka.

Esperávamos passar pouco mais de uma semana numa lua-de-mel de sonho, que queríamos complementar com longas horas entre as águas transparentes e quentes, pintadas de azul-turquesa, do Índico, e as areias brancas de coral que formam as várias ilhas que se agrupam nos 26 atóis que formam o país.

Mas ainda mais que isso, queríamos também aproveitar a nossa presença naquele local para fazer uma semana completa com mergulhos diários, que deram uma dimensão muito especial a esta viagem, pois não é com frequência que encontramos locais com um fundo do mar tão espetacular, e é muito rara a oportunidade de podermos fazer parte daquele ambiente inacreditável, como se andássemos literalmente à procura de Nemo…..por entre centenas de familiares da Dori.
Inicialmente pensámos complementar esta viagem com uma extensão ao Sri Lanka, porque na época nem existiam problemas de segurança muito relevantes, mas considerámos que a viagem se tornaria demasiado cansativa com os voos locais e trocas de aviões, roubando tempo precioso para mergulhar e namorar. De qualquer forma se acrescermos ao tempo de viagem mais 2 a 4 dias, esta extensão pode ser bastante interessante porque permite uma oferta diferente do que apenas um destino de praia e mergulho, levando-nos a ambientes mais selvagens, dando assim uma outra dimensão às férias, embora o acréscimo de custo seja bastante significativo. Mas acabámos por nos confinar às Maldivas por um período total de 9 dias, sendo 2 inteiramente consumidos em viagens.

O País

A República das Maldivas é um pequeno país insular localizado em pleno Oceano Índico a Sudoeste do Sri Lanka e da Índia, constituído por 26 atóis onde emergem 1196 ilhas, das quais apenas 203 são habitadas. Os atóis, onde se formam cadeias de ilhas, são compostos por recifes de corais e bancos de areia, situados no topo de uma cordilheira submarina com 960 km de comprimento, que se ergue no Oceano Índico e se dispõe de Norte para o Sul. As ilhas que formam Maldivas resultam dos ligeiros afloramentos do recife, sendo por isso o país com a mais baixa altitude em todo o mundo, com o ponto mais elevado a 2,3 m acima do nível do mar e com uma altitude média de 1,5 m.

A linha do equador passa a sul do arquipélago, pelo que, naturalmente, o clima é tropical e húmido, intercalando momentos de céu limpo com um sol tórrido, com grandes chuvadas tropicais que, normalmente, nos chegam aos finais de tarde, antes do pôr-do-sol. 

Historicamente o país foi colónia portuguesa (desde 1558), holandesa (desde 1654) e britânica (desde 1887). Em 1965 tornou-se independente e depois disso foi instaurada uma república. 

Atualmente a população segue maioritariamente a religião islâmica, sendo o país menos populoso entre todos os países muçulmanos. É também o menor país e menos populoso de toda a Ásia.

Malé é a maior cidade e a capital das Maldivas, localizada no extremo Sudeste do Atol Kaafu, muito próxima da ilha vizinha onde se encontra o aeroporto internacional Ibrahim Nasir que recebe milhares de voos com turistas provenientes de todo o mundo. A cidade é fortemente urbanizada e tem cerca de 80 mil habitantes, o que, tendo em conta a sua pequena dimensão, a transforma numa cidade densamente povoada, ao contrário da grande maioria das restantes ilhas do arquipélago.
A cidade, tal como todas as ilhas do lado da costa Este do arquipélago, ou seja, do lado ocidental da ilha de Sumatra, foi sacrificada pelo tsunami que varreu aquela zona do Oceano Índico, quando as ondas altamente destrutivas, inundaram dois terços da cidade, no dia 26 de Dezembro de 2004. 

Felizmente a nossa viagem aconteceu cerca de dois anos e meio antes desta catástrofe. 

A maior parte das cerca de 200 ilhas que são habitadas, não têm qualquer povoação local residente, funcionando apenas como ilhas-hotel, totalmente ocupadas e geridas como resorts, muitos deles bastante luxuosos e, aproveitando a qualidade e beleza das águas, em alguns deles são construídos conjuntos de bungalows de alto luxo, em estacas de madeira cravadas sobre o mar. Existem hotéis ao longo de todo arquipélago e de todos os atóis. Os hotéis nas ilhas mais próximas de Malé permitem que as viagens de acesso se possam fazer de barco ou em pequenos hidroaviões. Os atóis mais distantes obrigam a viagens de aviões maiores até a alguns aeroportos e depois é feita a distribuição dos passageiros de barco. 

O hotel escolhido por nós foi o Holiday Island Resort, na Ilha de Dhiffushi, no Atol Alifu Dhaalu (também conhecido como South Ari Atoll), localizado a cerca de 100 km para Sudoeste de Malé, representado neste mapa, com todo o arquipélago e no mapa seguinte com destaque de apenas alguns dos atóis.

Fizemos a viagem em hidroavião, a baixa altitude, sobrevoando cerca de 100 km de mar e passando por diferentes ilhas, invariavelmente com paisagens extraordinárias, definindo o contraste entre as águas profundas, de azul mais forte, e os afloramentos de coral, responsáveis pelos azuis-claros…...e depois os bancos de areia branca que formam as praias e a vegetação intensa que cobre cada uma das ilhas, algumas ocupadas por resorts e outras totalmente desertas. A viagem seria de cerca de 35 a 40 minutos, mas com algumas amaragens, para deixar passageiros noutros hoteis, acabou por demorar cerca de uma hora.


O avião fez algumas descidas para deixar passageiros em vários resorts, o que nos permitiu observar de mais perto alguns dos complexos mais luxuosos do arquipélago.
Finalmente, chegámos ao nosso hotel……talvez menos exuberante do que alguns que tínhamos observado durante a viagem, mas viria a revelar-se bastante acolhedor e adequado aos objetivos da viagem.

O Hotel:

O Holiday Island fica localizado na extremidade Sul do Atol Alifu Dhaalu na Ilha de Dhiffushi, a apenas 97 km de Malé, que podem ser feitos de hidroavião, como neste caso, num aparelho da Trans Maldivan Airways, ou então em barcos rápidos, mas que se tornaria demasiado demorado.
A ilha tem cerca de 700 m de comprimento e 140 m de largura. Por entre uma vegetação tropical densa, encontra-se o complexo principal, onde fica o restaurante, rodeado por jardins integrados na vegetação. Existem também outros edifícios de uso público, como bares ou outras zonas de lazer e um cais localizado na extremidade do pier, que avança sobre o mar numa extensão 300 m.

Os quartos ocupam a primeira linha da periferia da ilha e são constituídos por bungalows individuais, localizados entre os coqueiros e outras árvores, de forma que, apesar de muito próximos do areal, estão de tal modo integrados na vegetação que mal são percetíveis a partir da praia.
Existem também umas palhotas de apoio às atividades de desportos náuticos, como a canoagem ou o snorkeling. Já as instalações da escola de mergulho têm um edifício próprio que nem sequer é gerido pelo hotel mas sim por uma equipa de instrutores da PADI que, naquela altura, eram todos italianos. 

Aliás, a ilha é especialmente ocupada por italianos, principalmente por casais ou grupos de adultos, ao contrário de outras ilhas, com ofertas de hotel mais apelativas para grupos de famílias, por exemplo. Nesta ilha não há sequer uma piscina nem aquela animação típica de hotel, o que é ótimo. Também não se vê ninguém a praticar desportos motorizados, como as motos de água, que são tão incomodativas. O que nos pareceu é que esta ilha é frequentada sobretudo por quem procura as saídas para mergulhar. 
Os bungalows estão praticamente encostados à praia e podemos ficar nos pátios privados à sombra dos coqueiros com os pés sobre aquela areia branca de coral, como se estivéssemos em pleno areal.

Quando ultrapassamos a área protegida pela vegetação não há hipótese de nos esticarmos ao sol, como fazemos habitualmente em qualquer praia, porque naquela zona dos trópicos, o sol, quando brilha, derrete tudo o que atinge. Assim, só saíamos da sombra quando queríamos entrar diretamente na água, quer fosse para nadar quer fosse para apanhar banhos de sol, porque a única solução era fazê-lo dentro de água.
A escolha do regime de hotel é importante, uma vez que não há absolutamente mais nada na ilha…..a ilha é o hotel e o hotel é a ilha. Portanto, não vale a pena pensar que se come alguma coisa em qualquer lado porque isso não existe. No entanto, o hotel não era daqueles do Tudo Incluído em que parece que o único propósito das férias é a comezaina. Mas tinha o regime de Pensão Completa que seria o mais conveniente, mas nem esse nós escolhemos. Como a ideia era ir mergulhar todos os dias e fazer ainda umas saídas adicionais para fazer snorkeling, era água a mais para se misturar com grandes almoçaradas. Assim optámos pela Meia Pensão…..e acabámos por ir comendo umas coisas bem mais ligeiras que se serviam nos bares do hotel, e fomos também degustando uns cocos que eu próprio apanhava subindo às árvores, como um artista de circo (confesso que eram daqueles coqueiros completamente deitados, com o tronco quase na horizontal). Com um almoço mais levezinho ganhávamos depois à hora do jantar porque vínhamos com o apetite ao rubro e atacávamos as muitas iguarias com que éramos brindados.

Não foi com o objetivo de comer muito e bem que para ali fomos, mas de facto, naquele restaurante, comia-se bastante bem e, quase sempre, muito. Os pratos eram sobretudo dentro dos paladares ocidentais, mas haviam sempre umas alternativas mais indianas, por vezes picantes, que eu nunca deixei de provar. As sobremesas eram também uma arte do chef que um dia nos recebeu com uma série de esculturas feitas em chocolate……nem sei se seriam para comer, mas impressionaram bastante. 

A Praia:

A praia é a essência daquelas ilhas……posso admitir que nem todos os visitantes sejam fãs de mergulho, que é algo muito específico e que obriga a alguma técnica e destreza, mas uma pessoa que não goste de praia, tem que fazer um favor a si própria, nunca ir para as Maldivas. Digo isto, que parece quase uma evidência de La Palice, mas porque tenho ouvido vários relatos de pessoas que escolhem este destino, sobretudo em lua-de-mel, mas que depois referem que não gostam muito de praia….que a areia atrapalha muito e o sol e a água, é tudo um tremendo incómodo. E há quem diga que não saiu da piscina……que sacrilégio, meu Deus!!!! Como é que é possível alguém trocar uma piscina por um mar azul-turquesa, com 28ºC, sobre uma areia finíssima de um branco que até encandeia……que praias magníficas estas, queria poder viver ali uma eternidade.

Felizmente nós os dois, eu e a Ana, somos fãs incondicionais de tudo aquilo que estas ilhas têm para oferecer, por isso viemos para o sítio certo e na altura certa…….adoramos estar na praia, na areia ou no mar, e ali estava aquela praia encantadora com águas mornas e cristalinas…...somos fãs de mergulho, e bem ali à frente tínhamos o fundo do mar mais belo e mais rico que alguma vez tínhamos visto……gostamos de degustar da boa cozinha, e os nossos jantares e pequenos-almoços, eram simplesmente magníficos…….e claro que adoramos namorar, e o namoro sob aquele sol e aquela lua, que para nós era de mel, foi ainda mais encantador e mais delicioso por todo aquele ambiente de sonho que nos rodeava.

Passar os dias na praia é muitas vezes um tédio, há quem diga. Mas para nós não, nadávamos horas a fio, parávamos para descansar nas espreguiçadeiras, líamos mais umas páginas dos livros que nos acompanhavam, voltámos a nadar, agora noutra zona da ilha, e voltámos a parar…….e era assim….uma grande maçada…..e tudo isto nestas paisagens de sonho, e ainda por cima com as praias completamente desertas, como se tivessem sido reservadas em exclusivo para a nossa lua-de-mel.

Para diversificar um pouco fazíamos uns passeios à volta da ilha, percorrendo toda a periferia pela beira-mar…..mas uns dias depois substituímos esse percurso por outro, ao longo da mesma periferia, mas desta vez por dentro de água e sempre a nadar. Outro percurso interessante, que repetíamos todas as noites depois de jantar, era chegar ao cais do ancoradouro através do passadiço de 300 m…..e depois tínhamos que regressar à praia…….uff, já estou cansado só de recordar tamanho esforço. 

O Mergulho:

O arquipélago das Maldivas é um dos destinos mais desejado e sonhado entre a comunidade de mergulho, com recifes coloridos, peixes pequenos com todas as formas e cores e peixes grandes……dos mais assustadores aos mais pacíficos, e ali está tudo aquilo ao nosso alcance…..entramos naquele admirável mundo e durante os minutos (perto de uma hora) em que o oxigénio nos vai deixando respirar, sentimo-nos como se pertencêssemos àquele universo deslumbrante.
Programámos fazer vários mergulhos, embora quiséssemos também conhecer o recife de águas mais superficiais a pouco mais de 1 km da ilha, onde se podia fazer snorkeling, numa experiência quase tão interessante como nos mergulhos de profundidade que fizemos.

Tínhamos programado um total de 5 mergulhos, uns mais madrugadores e outros à tarde, mas o primeiro contacto que tivemos com este mar magnífico foi explorando o recife fazendo apenas snorkeling, isto é, nadando com máscara, respirador e barbatanas. Tínhamos chegado nessa mesma manhã e fomos até ao apoio de praia onde nos forneceram o equipamento e nos indicaram a hora em que uma embarcação nos iria deixar sobre o recife para 40 minutos de surpresas. No último momento, antes de deixarmos o barco, e convém dizer que éramos apenas nós dois e o rapazinho que ficou no barco nossa espera, ele fez uma breve explicação. Comecem por aqui, sobre o recife, que encontram corais de formas e cores diferentes, muitos peixes coloridos e moreias. Vão depois chegando ao limite do recife onde o mar passa para profundidades muito maiores, e aí começam a aparecer alguns peixes maiores…..há tartarugas e alguns tubarões!!!!!! E esse final da frase ficou a ecoar na minha cabeça, já não consegui ouvir mais nada. Mas, como não somos de fugir, lá fomos mar adentro.

O que ele disse era mesmo o que nos esperava……mas a máquina fotográfica era fraquinha (ainda não existiam câmaras GoPro) e, por isso, a ideia transmitida fica muito aquém da beleza encontrada……mas dá para perceber alguma coisa do que nos foi passando pelo espírito naquela meia hora.
Começámos a explorar o recife e fomos avançando……
Encontrámos depois alguns cardumes, ainda muito à superfície, mas que atraem sempre mais predadores.



Por fim a profecia cumpriu-se, já próximo do limite da barreira de coral, onde se formam falésias de 30 ou mais metros de profundidade, as espécies maiores sobem até ao recife e ali estavam eles. Primeiro uma tartaruga, que é apenas uma fofura, face às piores expetativas.

E enquanto a Ana perseguia a dita tartaruga, num instante em que o sol deve ter sido encoberto por alguma nuvem escura, para tornar o cenário ainda mais medonho, apareceu o já esperado tubarão. Era um Whitetip Reef Shark, uma das espécies de tubarões que por ali circulam, que se identificam pela ponta branca da barbatana, e que, segundo dizem, é dos mais inofensivos….a questão é que, num local cheio de alimento, para que é que se iriam meter com um ser humano, tão grande e desajeitado?....mas essa é uma pergunta que só cada tubarão poderá responder em cada situação, e eu prefiro não esperar pela resposta. 
Depois do susto inicial, com a adrenalina a bombar, continuámos mais algum tempo e então apareceu-nos um Blacktip Reef Shark, com a barbatana preta, como diz o nome. Este mais encorpado e com cara de mau.
Com um tubarão ainda vai, mas com dois achámos que já estávamos a abusar da sorte…...e, de mansinho, sem grande estrilho e sem sequer olharmos para trás, lá fomos nadando até ao barco, onde o rapaz, que era o nosso único salvador em caso de SOS, dormia uma bela soneca.

Mal tínhamos acabado de aterrar e já tínhamos a adrenalina a mil. E nessas situações raramente queremos fugir da experiência, pelo contrário, temos é vontade de repetir……e era isso que iriamos fazer nos próximos dias.


No dia seguinte dirigimo-nos ao local de apoio às atividades de mergulho, uma escola com monitores italianos com a chancela da PADI Scuba Diving. 

Neste local é possível fazer um curso expedito para poder realizar o batismo de mergulho. Mas nesta ilha em concreto, pelo menos durante aquela semana, a maioria dos hóspedes que procuraram estas viagens eram já credenciados e com experiência, o que melhorou a escolha dos locais de mergulho, que está sempre dependente do nível dos mergulhadores que se conseguem juntar.

Eu e a Ana tínhamos certificados internacionais de mergulho obtidos em escolas PADI, e cadernetas de mergulho bastante carimbadas, no meu caso sobretudo devido aos mergulhos feitos na Madeira, enquanto a Ana vinha mergulhando há muito mais tempo e em vários locais.

Assim fomos integrados em grupos experientes e fizemos reservas para cinco dias, com um preço bastante relevante, de cerca de 80 € por pessoa para cada dia.

As saídas são feitas até diversos pontos de mergulho pré-identificados pela maior concertação de fauna marinha, localizados a distâncias diversas da nossa ilha, alguns próximos mas outros mais distantes, embora sempre dentro do mesmo atol.

As ilhas resultam dos afloramentos de barreiras de coral, cobertas por bancos de areia. No limite dessas barreiras formam-se desfiladeiros em coral que definem canais mais profundos entre as várias ilhas do atol. São exatamente esses canais, com profundidades diversas, que são escolhidos como locais de mergulho. Ali é possível encontrar na própria barreira de coral, em toda a sua profundidade, uma infinidade de espécies de pequenos peixes de mil cores, e logo ali ao lado, já em pleno canal, encontram-se as maiores espécies, que por ali vão circulando.

O que todos procuram são sobretudo as grandes espécies, principalmente as mantas e os tubarões baleia. Mas depois há sempre as tartarugas, os peixes napoleão e algumas espécies de tubarões, o withetip, o blacktip, o tubarão cinzento do recife e o tubarão martelo…..entre outros.

As mantas têm uma época específica para aparecerem e não é o mês de Maio, pelo que não vimos nenhuma. Também não vimos tubarões baleia nem os martelo……mas de resto vimos tudo o que tínhamos direito.

Só mais uma particularidade destes mergulhos…….como mergulhávamos nos canais que se formam entre os afloramentos das barreiras de coral, com os movimentos das marés, criavam-se correntes fortes. Assim, o barco largava-nos num determinado local e recolhia-nos a grande distância. Éramos arrastados pela corrente e assim contemplávamos aquelas maravilhas, sem sequer ser preciso bater as barbatanas, a não ser para nos aproximarmos ou afastarmos dos corais. 

Quando emergíamos, já com o oxigénio a atingir a reserva, não fazíamos ideia onde estaria o barco e ficávamos a aguardar que o piloto nos avistasse…….o que criava um certo desconforto, por estarmos alguns minutos a nadar num mar que já não conseguíamos ver, e que sabíamos estar infestado de tubarões. 

Para os mergulhos, propriamente ditos, já não pudemos levar a nossa câmara fotográfica, que não estava preparada para grandes profundidades, e aqui chegámos a atingir os 38 m. Assim pedimos algumas fotos que os monitores tiraram num dos mergulhos.

Qualquer mergulho começa sempre nos corais, onde gravitam pequenos peixes que aqui eram ainda mais bonitos……tal como o próprio coral, que por vezes é um espetáculo. 


Descendo para maiores profundidades ao longo do recife, fomos encontrando outras espécies de maior dimensão como o peixe napoleão, que encontrámos apenas duas vezes, e que é um bicho estranho, parece que se movimenta quase em câmara-lenta, e as tartarugas, que nos apareciam com alguma frequência.

Mesmo no fundo dos canais, a 30…..35 m de profundidade, já com a presença dos peixes maiores, o coral continuava a surpreender-nos, mas nessa zona a nossa atenção estava concentrada nos novos amigos que por ali se passeavam……os tubarões. Ainda as mesmas espécies que tínhamos visto no snorkeling, para além do tubarão cinzento do recife. Num total de 5 mergulhos, cruzámo-nos com 7 tubarões, e ainda hoje recordo a sensação que me assolava cada vez que que vislumbrava um novo espécime…..e que, por vezes, continuava ali pela zona, aproximando-se e afastando-se e, aparentemente, sempre sem nos passar bilhete nenhum….graças a Deus.

Mas em algumas situações, como estas, mesmo a profundidades mais superficiais, aqueles mares continuavam a surpreender……e os predadores continuavam a marcar presença.


Passeios de Barco:

Para além das várias atividades que a ilha nos oferecia e também dos vários momentos de ócio que foram sempre aproveitados da melhor forma, quisemos ainda fazer alguns passeios de barco, sem ser com o propósito de irmos mergulhar.

Escolhemos duas saídas, uma delas até à vizinha ilha de Maamigili, uma das ilhas com habitantes locais, a maioria trabalhará certamente nos resorts mais próximos, mas percebia-se que a pesca seria também uma das principais fontes de rendimento da população….que vive em condições muito parcas, embora não deva existir fome, com um mar tão rico por perto.

A viagem foi feita num barco tradicional que demorou apenas 15 minutos na travessia. Cruzámo-nos com um pequeno bote, o que nos permitiu perceber a forma de pesca artesanal que ali é praticada.

Percorremos a ilha livremente, contactando à vontade com a população, que nos tentava vender algum artesanato, mas que revelava sempre uma grande simpatia. Vivem sob um calor abrasador e nem sequer têm o hábito de tomar banhos de mar, o que daria para refrescar. As casas são pouco mais que barracas em forma de palhotas onde as temperaturas devem ficar ao rubro…..mas essa é a forma como vive a grande maioria da população do planeta, a nós é que tudo isso ainda nos impressiona bastante. 

A segunda saída de barco foi para uma pescaria ao pôr-do-sol e tivemos a oportunidade para confirmar a nossa inabilidade para esta tarefa. Toda a gente do barco ia sacando peixes e nós dois nem um peixinho….mais concretamente, pesquei apenas meio peixe, que terá sido apanhado a meio da subida por um tubarão.

Ainda assim não deixámos de participar no jantar que preparam com o peixe que tínhamos pescado…..que os outros tinham pescado, para ser mais exato. Fizeram um peixe grande, talvez um robalo, em prata sobre o carvão, mas o resultado final foi uma treta…..sem sabor nenhum, provavelmente por ser um peixe sem gordura devido às águas quentes. Fizeram ainda algum sushi e sashimi com os peixes apanhado e serviram com todos os preceitos japoneses. Entretanto, a Ana, sem se ter apercebido que tinham mudado a agulha para um ambiente japonês, viu uma tijela de wasabi e pensou que se tratava de um suculento guacamol, por isso encheu uma colher e engoliu sem hesitar. Como se pode imaginar, ia falecendo ali mesmo, e eu a ver-me viúvo em plena lua-de-mel. Porém, apesar do susto, o episódio acabou por ter um final feliz.

Uma visão do paraíso:

Refiro-me aos maravilhosos sunsets, que nos proporcionaram alguns dos momentos mais extraordinários destas férias……e que vivemos diariamente com toda a intensidade e paixão.

Enquanto caminhávamos até à zona do restaurante, ou nos preparávamos ainda para sair do bungalow, havia sempre um momento que que o céu nos presenteava com uma pintura inesquecível, e quase sempre diferente. 

Era nesses momentos, em que a paisagem e o silêncio nos esmagavam, que melhor entendíamos a profundidade dos sentimentos que nos uniam e que tínhamos acabado de selar. Pelo menos é assim que eu recordo as emoções ali vividas…..apesar de terem já passado tantos anos, é como se tivesse sido ontem. 

E não haverá melhor maneira de fechar a crónica desta viagem de sonho do que deixar aqui algumas dessas imagens…….ficam a faltar as emoções, porque essas são apenas nossas e não partilháveis. 





Carlos Prestes
Maio de 2002


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